Como Supermercados e Atacadistas Estão se Transformando em Bancos Disfarçados (E Por Que Isso É Genial)
24 de set. de 2025

O setor supermercadista brasileiro é um gigante. Em 2024, ele movimentou a impressionante marca de R$ 1,067 trilhão, o que equivale a 9,12% do PIB nacional [1]. Empresas como o Assaí, sozinhas, faturam mais de R$ 80 bilhões por ano [2]. Bilhões de reais fluem diariamente por mais de 424 mil pontos de venda, atendendo milhões de consumidores e pequenos comerciantes.
Mas aqui está o paradoxo: enquanto supermercados e atacadistas gerenciam esse volume colossal de dinheiro, quem realmente captura a maior parte do lucro financeiro gerado por ele? A resposta, na maioria das vezes, são os bancos e as operadoras de cartão.
Cada transação com cartão, cada antecipação de recebível, cada boleto pago, gera taxas e juros que são absorvidos por intermediários financeiros. Eles lucram de forma silenciosa e estratégica, sem precisar se preocupar com estoque, logística ou gôndolas. Mas e se essa lógica pudesse ser invertida?
E se o próprio supermercado ou atacadista pudesse se tornar o banco? Neste artigo, vamos explorar por que as maiores redes de varejo do Brasil têm tudo para se transformar em poderosas infraestruturas financeiras, como isso já está acontecendo e, mais importante, o que você pode fazer para iniciar essa revolução no seu negócio.
O Tamanho Real do Mercado: Um Oceano de Oportunidades
Para entender o potencial da fintechização no varejo, é preciso dimensionar o mercado. Os números, compilados pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), são impressionantes:
Faturamento Anual: R$ 1,067 trilhão em 2024.
Relevância Econômica: 9,12% do PIB brasileiro.
Capilaridade: Mais de 424 mil pontos de venda em todo o país.
Crescimento Contínuo: O volume de transações nos supermercados cresceu 11,6% em 2024, com um aumento de 18,8% no faturamento [3].
Essa combinação de escala, recorrência e diversidade de clientes (B2C e B2B) cria um fluxo de caixa previsível e gigantesco, o cenário perfeito para a captura de valor financeiro. O dinheiro já está passando pela sua operação; a questão é quem fica com a maior parte do lucro gerado por ele.
Como os Bancos Lucram (E Você Não)
Quando uma venda de R$ 100 é feita no seu estabelecimento, o caminho do dinheiro é mais complexo do que parece. Vamos a um exemplo prático:
Pagamento com Cartão de Crédito: O cliente paga R$ 100. A bandeira e o banco emissor podem cobrar de 2% a 3% em taxas. A adquirente (maquininha) retém mais 1% a 1,5%.
Antecipação de Recebíveis: Se você precisa do dinheiro antes do prazo de 30 dias, paga uma taxa de antecipação que pode chegar a 1% ou mais sobre o valor total.
No final, somando todas as taxas, os intermediários financeiros podem lucrar de 4% a 5,5% sobre a venda. Agora, compare isso com a margem de lucro média de um supermercado, que, segundo a ABRAS, gira em torno de 2% a 5% por produto. Em muitos casos, o banco lucra mais com a transação do que você com a venda do produto.
E isso sem contar o ativo mais valioso: os dados. Os bancos sabem exatamente o que, quando e como seus clientes compram, e usam essas informações para oferecer crédito, seguros e outros produtos, gerando ainda mais receita.
O Que É Uma Infraestrutura Financeira Própria?
Uma infraestrutura financeira própria é um sistema integrado que permite que o seu negócio capture o valor financeiro que hoje é perdido para intermediários. Em vez de apenas vender produtos, você passa a gerenciar o fluxo de dinheiro dentro do seu próprio ecossistema.
Na prática, isso pode se manifestar de várias formas:
Carteiras Digitais (Wallets): Ofereça uma carteira digital com a sua marca para clientes e parceiros comerciais. Com ela, eles podem pagar, receber, transferir e até obter crédito, tudo dentro do seu ambiente.
Antecipação de Recebíveis Interna: Com o dinheiro centralizado, você pode oferecer antecipação de recebíveis para seus parceiros B2B (restaurantes, mercadinhos) com taxas muito mais atrativas, gerando receita e fortalecendo o relacionamento.
Programas de Fidelidade e Cashback Inteligentes: Crie programas de recompensa que incentivam a recorrência e o aumento do ticket médio, tudo gerenciado pela sua própria plataforma.
Crédito e Financiamento: Ofereça crédito para seus clientes (Crediário da casa) ou capital de giro para seus parceiros comerciais, com base nos dados de compra que você já possui.
O benefício vai muito além do lucro direto. Ao controlar o fluxo financeiro, você obtém dados riquíssimos sobre o comportamento do consumidor, permitindo otimizar estoques, promoções e estratégias de venda.
Casos Reais de Sucesso no Varejo Brasileiro
Grandes players do setor já entenderam essa lógica e estão agindo:
Carrefour: O Grupo Carrefour não apenas possui o Cartão Carrefour, uma das maiores operações de cartão private label do país, como também adquiriu 49% da fintech Ewally para acelerar sua entrada no mercado de contas digitais. Hoje, através do seu aplicativo, já é possível realizar pagamentos via Pix, antecipar parcelas e muito mais [4].
Atacadão: Parte do grupo Carrefour, o Atacadão também possui seu próprio cartão e um aplicativo robusto que permite a antecipação de parcelas e outras funcionalidades financeiras, fidelizando tanto o consumidor final quanto o pequeno comerciante [5].
Assaí: O gigante atacadista centraliza os recebimentos de parceiros e clientes em sistemas internos, o que permite a oferta de antecipação de recebíveis e aumenta a retenção de seus clientes B2B. Cada transação gera dados estratégicos e oportunidades de receita indireta.
O ponto em comum é claro: eles estão centralizando os fluxos financeiros, capturando dados valiosos e transformando pagamentos em oportunidades de lucro e fidelização, sem precisar se tornarem bancos tradicionais.
Case Study: Como um Atacadista Médio Pode Gerar R$ 2,4 Milhões Anuais Extras
Vamos a um exemplo prático de um atacadista médio com as seguintes características:
Faturamento anual: R$ 120 milhões
Número de clientes B2B: 2.000 pequenos comerciantes
Ticket médio: R$ 5.000 por compra
Frequência: 12 compras por ano por cliente
Cenário Atual (Sem Infraestrutura Financeira):
Margem líquida: 3% = R$ 3,6 milhões/ano
Taxas pagas a bancos: R$ 3,6 milhões/ano (3% do faturamento)
Cenário com Infraestrutura Financeira Própria:
Antecipação de Recebíveis: 40% dos clientes antecipam recebíveis mensalmente
Volume mensal: R$ 2 milhões
Taxa cobrada: 2,5% (vs. 4% do mercado)
Receita anual: R$ 600.000
Cartão Private Label: 60% dos clientes aderem
Faturamento no cartão: R$ 72 milhões/ano
Receita de interchange: 1,5%
Receita anual: R$ 1.080.000
Crédito para Capital de Giro: 25% dos clientes utilizam
Volume médio: R$ 20.000 por cliente
Taxa de juros: 3% ao mês
Receita anual: R$ 720.000
Total de Receita Financeira Adicional: R$ 2,4 milhões/ano Aumento na margem total: De 3% para 5%
Calculadora de ROI: Quanto Você Pode Ganhar?
Use esta fórmula simples para estimar o potencial da sua operação:
Receita Financeira Potencial Anual = (Faturamento Anual × 0,02) + (Número de Clientes B2B × R$ 1.200)
Exemplo:
Faturamento: R$ 50 milhões
Clientes B2B: 800
Potencial: (50M × 0,02) + (800 × 1.200) = R$ 1 milhão + R$ 960 mil = R$ 1,96 milhão/ano
Navegando o Compliance e a Regulamentação: O Que Você Precisa Saber
Uma das principais preocupações ao implementar uma infraestrutura financeira própria é a questão regulatória. Felizmente, você não precisa se tornar um banco para capturar valor financeiro. Existem várias modalidades regulamentares que permitem oferecer serviços financeiros de forma segura e legal:
Instituição de Pagamento (IP): Permite emitir moeda eletrônica e gerenciar contas de pagamento, ideal para carteiras digitais.
Sociedade de Crédito Direto (SCD): Autoriza a concessão de crédito com recursos próprios, perfeita para programas de crediário.
Parcerias com Instituições Autorizadas: A forma mais rápida de começar, utilizando a licença de parceiros já regulamentados.
O Banco Central tem sido favorável à inovação no setor financeiro, especialmente através do Open Banking e do Pix, que facilitam a integração de novos players. O importante é sempre contar com assessoria jurídica especializada e parceiros experientes no processo regulatório.
Benchmarks Internacionais: O Que o Mundo Está Fazendo
Estados Unidos:
Walmart: Possui o Walmart Money Card e oferece serviços bancários através de parcerias
Amazon: Amazon Pay e programas de crédito para vendedores da plataforma
China:
Alibaba: Ant Financial (agora Ant Group) nasceu do ecossistema de e-commerce
JD.com: JD Finance oferece desde pagamentos até seguros
Europa:
Tesco (Reino Unido): Tesco Bank oferece conta corrente, cartões e empréstimos
Carrefour (França): Carrefour Banque é um banco completo
América Latina:
Mercado Libre: Mercado Pago se tornou uma das maiores fintechs da região
Rappi: Expandiu para serviços financeiros em vários países
O Brasil está seguindo uma tendência global onde o varejo se torna infraestrutura financeira. A diferença é que aqui ainda estamos no início dessa transformação, o que representa uma oportunidade única para quem agir agora.
Passo a Passo Prático para Começar Hoje
Mapeie seu Fluxo de Caixa: Entenda detalhadamente por onde o dinheiro entra e sai da sua operação. Identifique todas as taxas pagas a intermediários.
Comece pela Estratégia, Não pela Tecnologia: Qual a maior dor financeira do seu cliente? Falta de crédito? Dificuldade de pagamento? Resolva um problema real.
Centralize a Operação: Crie uma carteira digital própria ou consolide todos os pagamentos em uma plataforma única. A visibilidade é o primeiro passo para o controle.
Adicione Serviços de Valor: Comece com o básico, como antecipação de recebíveis para parceiros ou um programa de cashback. Evolua gradualmente.
Busque Parcerias Estratégicas: Você não precisa construir tudo do zero. Fintechs e empresas de BaaS (Banking as a Service) oferecem a infraestrutura tecnológica e regulatória para você plugar na sua operação.
Cronograma de Implementação: Do Zero ao Funcionamento
Meses 1-2: Diagnóstico e Planejamento
Mapeamento completo do fluxo financeiro
Definição da estratégia e produtos prioritários
Escolha de parceiros tecnológicos
Meses 3-4: Estruturação Jurídica e Tecnológica
Adequação regulatória
Desenvolvimento/integração da plataforma
Testes internos
Meses 5-6: Piloto e Ajustes
Lançamento para grupo seleto de clientes
Coleta de feedback e ajustes
Treinamento da equipe
Mês 7+: Escala e Otimização
Lançamento completo
Expansão gradual dos serviços
Monitoramento e otimização contínua
Investimento inicial estimado: R$ 200 mil a R$ 500 mil Payback médio: 8 a 12 meses
Riscos e Desafios: O Que Pode Dar Errado (E Como Evitar)
Principais Riscos:
Risco de Crédito: Inadimplência nos empréstimos concedidos
Mitigação: Análise rigorosa baseada no histórico de compras, limites conservadores iniciais
Risco Operacional: Falhas nos sistemas ou processos
Mitigação: Parceiros tecnológicos confiáveis, testes extensivos, planos de contingência
Risco Regulatório: Mudanças na legislação ou multas por não conformidade
Mitigação: Assessoria jurídica especializada, acompanhamento constante das regulamentações
Risco de Liquidez: Falta de caixa para honrar compromissos
Mitigação: Gestão rigorosa do fluxo de caixa, linhas de crédito de backup
Desafios Comuns:
Resistência interna: Equipe não familiarizada com serviços financeiros
Complexidade inicial: Curva de aprendizado íngreme
Concorrência bancária: Reação dos bancos tradicionais
A chave é começar pequeno, aprender rápido e escalar gradualmente com o suporte de especialistas experientes.
Benefícios e Impactos Diretos
Aumento da Receita: Capture parte do lucro que hoje fica com os bancos.
Maior Fidelização: Crie um ecossistema que seus clientes e parceiros não queiram abandonar.
Redução de Custos: Diminua a dependência de taxas de cartão e antecipações.
Inteligência de Dados: Tome decisões mais assertivas com base em dados de transações reais.
Diferenciação no Mercado: Posicione sua marca como inovadora e completa.
Como a Finscale Pode Ajudar: O Caminho Seguro para sua Transformação Financeira
Entendendo a complexidade e os desafios dessa jornada, a Finscale, liderada por especialistas com vasta experiência na criação e escala de operações financeiras, desenvolveu uma metodologia única para guiar a sua empresa nessa transformação. Nós não apenas apontamos o caminho; nós o construímos junto com você.
O Método MAPA: Seu GPS para o Sucesso
Nosso trabalho é fundamentado no Método MAPA, um verdadeiro GPS que oferece um passo a passo claro e seguro para a criação da sua plataforma financeira:
Mapeamento e Diagnóstico: O primeiro passo é um mergulho profundo no seu negócio. Realizamos um diagnóstico completo da sua cadeia de valor para identificar os maiores gargalos e as oportunidades financeiras mais lucrativas. Não partimos de achismos, mas de dados e análises concretas.
Arquitetura da Solução: Com o diagnóstico em mãos, desenhamos a arquitetura da solução financeira ideal para a sua empresa. Isso inclui a modelagem do produto, a estruturação jurídica e de risco, a definição da tecnologia necessária e a projeção do retorno sobre o investimento (ROI).
Plano de Execução: Criamos um plano de implementação detalhado, com fases, cronogramas e KPIs claros. Conectamos sua empresa aos melhores parceiros de tecnologia (BaaS), funding (FIDCs) e regulação do mercado, garantindo que você tenha o suporte certo em cada etapa.
Aceleração e Escala: Após o lançamento, nosso trabalho não termina. Oferecemos acompanhamento contínuo através do Finscale Expert, nosso programa de aceleração, para garantir que sua operação financeira cresça de forma sustentável e lucrativa, com atualizações constantes sobre as melhores práticas e tendências do mercado.
Com a Finscale, você evita os erros que custam caro e acelera em anos a sua jornada de transformação. Nós já ajudamos a tirar mais de 200 fintechs do papel e sabemos exatamente o que é preciso para construir uma operação financeira de sucesso.
Se você está pronto para deixar de ser um refém do sistema financeiro e colocar sua empresa no centro da cadeia de valor, o primeiro passo é conversar com nosso time de especialistas. Clique no link abaixo para agendar uma conversa e descobrir se a sua empresa está pronta para essa revolução.
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Referências
[1] Setor supermercadista fatura R$ 1,067 tri em 2024, equivalente a 9% do PIB, diz Abras. (2025, April 15). InfoMoney. Retrieved from https://www.infomoney.com.br/economia/setor-supermercadista-fatura-r-1067-tri-em-2024-equivalente-a-9-do-pib-diz-abras/
[2] Assaí avança em eficiência, reduz dívida e supera R$ 80 bi em faturamento em 2024. (2025, February). Assaí Atacadista. Retrieved from https://www.assai.com.br/imprensa/assai-avanca-em-eficiencia-reduz-divida-e-supera-r-80-bi-em-faturamento-em-2024
[3] Ranking ABRAS 2025 destaca supermercados como força motriz da economia nacional. (2025, April 14). Super Hiper. Retrieved from https://superhiper.com.br/ranking-abras-2025-destaca-supermercados-como-forca-motriz-da-economia-nacional/
[4] Grupo Carrefour Brasil anuncia aquisição de 49% da fintech Ewally e entrada no mercado de conta digital. (2024, October 1). AMIS. Retrieved from https://amis.org.br/grupo-carrefour-brasil-anuncia-aquisicao-de-49-da-fintech-ewally-e-entrada-no-mercado-de-conta-digital/
[5] Antecipação de Parcelas - Cartão Atacadão. Cartão Atacadão. Retrieved from https://www.cartaoatacadao.com.br/cartao-atacadao/antecipacao-de-parcelas/
Artigo escrito pela equipe Finscale